Regulação nas Redes de Atenção à Saúde
Aspectos conceituais das Redes de Atenção à Saúde
A proposta das Redes de Atenção à Saúde (RAS) foi discutida pela primeira vez no Relatório de Dawson, publicado em 1920, a partir do questionamento de como garantir o acesso com equidade a toda a população (OPAS, 1964).
Saiba mais |
Veja a publicação do "Informe Dawson" sobre El Futuro de Los Servicios Medicos Y Afines 1920 (OPAS, 1964). Clique aqui para acessar. |
Além da proposta de Redes de Atenção à Saúde (RAS) apresentada no relatório de Dawson, Fleury e Ouverney (2007) propuseram as RAS como forma de gerir políticas e projetos na qual os recursos são escassos e os problemas complexos, e há agentes públicos e privados compondo a rede, de forma central e local; e principalmente onde se manifesta uma crescente demanda por benefícios e por controle social.
Segundo Silva e Magalhães Junior (2008), as Redes de Atenção à Saúde podem ser definidas como uma malha que interconecta e integra os diversos pontos de atenção à saúde de determinado território, organizando-os sistematicamente para que os diferentes níveis e densidades tecnológicas de atenção à saúde estejam articulados e adequados para o atendimento ao usuário e para a promoção da saúde.
O Ministério da Saúde define as RAS como “arranjos organizativos de ações e serviços de saúde, de diferentes densidades tecnológicas, que integradas por meio de sistemas técnico, logístico e de gestão, buscam garantir a integralidade do cuidado”, normatizando e definindo as diretrizes e a implantação das RAS por meio da Portaria GM/MS nº. 4.279, de 30 de dezembro de 2010 (BRASIL, 2010).
Para refletir |
No seu território, existe acesso à saúde com equidade para toda a população?
|
A organização das RAS, para ser realizada de forma efetiva, eficiente e com qualidade, deve se estruturar considerando os seguintes fundamentos: a economia de escala, a disponibilidade de recursos, qualidade e acesso, a integração horizontal e vertical, os processos de substituição, os territórios sanitários e os níveis de atenção (MENDES, 2011).
As RAS devem se organizar com singularidade nos processos descentralizadores frente a outros setores sociais, sendo seus pontos de atenção compostos por equipamentos de diferentes densidades tecnológicas e com distribuição no território da melhor forma possível (MENDES, 2011).
Exemplo de organização das RAS
Unidades de Terapia Intensiva (UTI) para pacientes críticos |
Unidade Coronariana (UCO) |
Enfermaria de leitos clínicos |
Unidade de Atenção ao Acidente Vascular Encefálico (UAVE) |
Enfermarias especializadas em álcool e drogas |
Unidade básica de Saúde (UBS) |
Unidade de Acolhimento Terapéutico Transitório (UATT II) |
Central de Regulação (SAMU) |
Unidade de Pronto-atendimento (UPA) |
Núcleo de Apoio à Saúde da Família (NASF) |
Central de Atenção Psicossocial (CAPS) |
Central de Atenção Psicossocial álcool e drogas (CAPS AD) |
Unidade de Acolhimento Terapéutico Transitório (UATT I) |
Atenção Domiciliar |
Consultório de Rua |
Equipe de Atenção Básica de apoio à CT |
Comunidade Terapêutica |
Promoção da Saúde / Prevenção de doenças e agravos |
Fonte: (MAGALHÃES JÚNIOR, 2012, adaptado).
Segundo Rosen e Ham (2008), os objetivos de uma RAS são melhorar a qualidade de vida das pessoas usuárias, os resultados sanitários do sistema de atenção à saúde, a eficiência na utilização de recursos e a equidade em saúde.
De acordo com Agranoff e Lindsay (1983), para a gestão eficaz das redes, é fundamental a produção de consensos, construir situações nas quais todos os atores envolvidos no processo se beneficiem dos resultados, buscar harmonizar as decisões políticas e administrativas, negociar as soluções diariamente e monitorar e avaliar permanentemente todos os processos envolvidos na produção do cuidado nas RAS.
Os fatores de sucesso das RAS estão relacionados à combinação de liderança interna e externa ao processo de construção/implementação, maior participação de profissionais, ao fortalecimento e ao reconhecimento da Atenção Primária à Saúde (APS) como ordenadora da rede, bem como à importante ferramenta da gestão da clínica a partir de implantação de diretrizes clínicas (GRIFFITH, 1997 apud MENDES 2011).
Segundo Mendes (2011), existem vários estudos e propostas de redes de atenção à saúde, alguns exemplos de experiências bem sucedidas se constituem enquanto conjunto de atenção à saúde voltada para a continuidade do cuidado, com a promoção e manutenção da saúde de uma população definida dentro de uma gestão de rede.
Segundo Coile (1997 apud MENDES, 2011, p. 62), o futuro dos sistemas de saúde está em integrarem as Redes de Atenção à Saúde (RAS):
[...] baseadas na cooperação mais que na competição e numa cooperação que se expressasse operacionalmente em: a visão compartilhada de rede, a eliminação de redundâncias, a implantação de diretrizes clínicas, a integração horizontal e vertical dos serviços e o foco na qualidade.
A integralidade da atenção é um eixo prioritário da investigação e avaliação dos serviços e dos sistemas de saúde, estruturados em redes interorganizacionais, que se articulam clinicamente, funcionalmente, operacionalmente com determinadas normatizações. Assim, há o reconhecimento de que nenhuma organização reúne totalmente os recursos e as competências necessárias para a solução dos problemas de saúde de uma população nos seus diversos ciclos de vida (HARTZ; CONTANDRIOPOULOS, 2004).
A integração da rede de serviços na perspectiva da APS envolve a existência de um serviço de procura regular, a constituição dos seus serviços como porta de entrada preferencial, a garantia de acesso aos diversos níveis de atenção por meio de estratégias que associem as ações e trabalhos necessários para resolver necessidades menos frequentes e mais complexas com mecanismos formalizados de referência e a coordenação das ações pela equipe de APS garantindo o cuidado contínuo, a integração, a coordenação e a continuidade nos processos inter-relacionados e interdependentes que se expressam em vários âmbitos: sistema, atuação profissional e experiência do paciente ao ser cuidado (GIOVANELA, 2011).
Os níveis de atenção à saúde se organizam por arranjos produtivos segundo as suas densidades tecnológicas singulares, variando do nível de menor densidade, nesse caso a atenção básica, ao de média e maior densidade, a atenção secundária e terciária à saúde, respectivamente (MENDES, 2011).
Arranjos produtivos das RAS conforme densidades tecnológicas
Fonte: (MAGALHÃES JÚNIOR, 2012, adaptado).
A discussão de implantação de Redes de Atenção deve ser considerada como um processo gradativo e com a participação dos diversos atores sociais, considerando o conceito de RAS e os desafios conforme a necessidade de cada território, para, assim, compor RAS de forma democrática e com o compromisso de todos envolvidos no processo.
Pausa para o debate |
No seu município, o sistema de saúde está organizado em RAS? Conte-nos, na sua opinião, o que falta para compor plenamente as RAS. Quais são as maiores dificuldades e os avanços na implantação das RAS no seu território? Clique aqui para acessar o fórum. |