Morte e luto na Atenção Básica

O estudo da morte engloba desde suas definições até os cuidados com os vestígios associados. A ciência que estuda a morte e o morto, em suas diversas dimensões, recebe o nome de tanatologia, e o aprofundamento do conhecimento nessa área é de extremo valor para os profissionais de saúde, seja para dar suporte emocional a família ou para atestar o óbito, sendo esta última atividade privativa do médico.

Antes, precisamos discutir uma questão importante: diante de uma situação iminente de morte, muitas vezes, os profissionais da Atenção Básica se veem impotentes, não sabendo, ao certo, como se posicionarem frente ao sofrimento e à dor da família, além de terem que vivenciar perdas de usuários com os quais a convivência possibilitou o estabelecimento de vínculos intensos na comunidade (BANDEIRA et al., 2014).

E, isso, geralmente, acontece porque eles não estão sendo preparados para trabalharem com esse fato da mesma maneira que o são para a manutenção da vida, seja na promoção da saúde, na prevenção de agravos e doenças ou na reabilitação dos usuários. Essa falta de preparo e de reflexões sobre a morte deixa os profissionais perplexos frente à tomada de decisões nesse tipo de situação (BANDEIRA et al., 2014).

Mas, a responsabilidade de atuar na assistência à morte é competência da Atenção Básica?

A integralidade da assistência é um dos princípios do SUS (Sistema Único de Saúde) e significa considerar a integralidade do sujeito, dos serviços e dos cuidados, de forma completa, e não parcial, nos diversos níveis de complexidade.

Uma vez que a Atenção Básica orienta-se pelos princípios da coordenação do cuidado, do vínculo e continuidade, da responsabilização e da humanização, para fazer valer a integralidade da assistência, devemos estender o conceito de integralidade desde a concepção até a morte do indivíduo (BRASIL, 2012a).  

Os profissionais da Equipe de Saúde da Família, portanto, podem acompanhar e apoiar a família no processo de luto. E, certamente, irão compreender o grau de impacto da perda na família, uma vez que conhecem as relações familiares existentes, e diversos aspectos da vida atual e pregressa da pessoa ou da família enlutada. A atuação da equipe, frente à morte neste contexto, pode ser bem vivenciada tendo em vista a proximidade com o local de moradia dos sujeitos, e isso implica em corresponsabilização pelo cuidado e acompanhamento, principalmente quando o usuário não está sendo atendido em outro nível de atenção por quaisquer motivos (ONARI, 2011).

Atitudes diante da morte

Elisabeth Kübler-Ross, psiquiatra sueca, é autora do livro On Death and Dying (título traduzido: Sobre a morte e o morrer), uma excelente literatura que aborda o entorno da morte, na qual ela apresenta o conhecido Modelo de Kübler-Ross (descrito abaixo). Segundo essa autora, os comportamentos, ansiedades e defesas das pessoas doentes diante de uma notícia de morte iminente podem ser classificados em 5 (cinco) estágios (KÜBLER-ROSS, 2017): 

Fonte: (KÜBLER-ROSS, 2008).

Kübler-Ross também dá destaque, em seu livro, à comunicação entre o profissional de saúde, a pessoa doente e a família. Existe uma tendência ao mascaramento, pela família, da real situação do doente, sendo, portanto, uma dificuldade enfrentada pelos profissionais de saúde, especialmente os médicos, para que a verdade não venha à tona (QUEIROZ; QUEIROZ, 2012).

É importante saber que pode haver falha na comunicação, e, em casos em que o doente descobre a sua real condição, a relação de sua confiança para com os outros (inclusive os profissionais de saúde) pode ficar abalada, desestimulando sua esperança e garantia de que os mesmos estarão junto com ele até o final da batalha (QUEIROZ; QUEIROZ, 2012).

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Para saber mais, conheça a obra completa da autora Elisabeth Kübler-Ross, no livro:
Sobre a morte e o morrer (KUBLER-ROSS, 2008).

Cada indivíduo reage de forma individual e única diante de uma perda, seja em relação a um ente querido da família ou do círculo de amizades, e o passo seguinte é iniciar o processo de luto, tendo que lidar com a reorganização da vida que foi abalada e modificada pela nova conjuntura. O luto nada mais é do que um trabalho psíquico que consiste em elaborar a perda e em abandonar as relações com o objeto perdido (ONARI, [2011]).

Worden (1998) lista categorias no processo de luto normal, dividindo-as em:

Fonte: (WORDEN, 1998, adaptado).

Também é de fundamental importância que a equipe de saúde conheça os principais fatores que influenciam no enfrentamento do luto por parte da família, a fim de facilitar a assistência no momento oportuno (QUEIROZ; QUEIROZ, 2012):





Fisiológicos

  • Controle de sintomas, sono, alimentação;

  • Autonomia e qualidade de vida.

Psicológicos

  • Natureza e significado da perda;

  • Qualidades da relação com a pessoa falecida;

  • Lugar que a pessoa falecida ocupava na dinâmica familiar;

  • Recursos de enfrentamento;

  • Personalidade e saúde mental;

  • Idade e aspectos sociais e culturais do enlutado;

  • Circunstâncias da terminalidade;

  • Perdas secundárias.






Sociais

  • Isolamento;

  • Suporte afetivo;

  • Nova identidade social.






Espirituais

  • Sistemas de crenças;

  • Relação espiritualidade e luto.

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Para complementar seus estudos, recomendamos a leitura do material:

O luto na Estratégia Saúde da Família, de autoria de Pedro Onari (ONARI, [2011]). Para ter acesso, clique aqui.

Última atualização: quinta, 31 Jan 2019, 15:23