Abordagens de adultos em situações de urgência e emergência na Atenção Básica
Preparação: conhecimento operacional da rede e planejamento
Para o ATLS, a fase de preparação envolve desde o entrosamento do pré-hospitalar e hospitalar até a preparação do ambiente hospitalar para receber a vítima (ATLS, 2012). Essa fase pode ser adaptada e redenominada de preparação e planejamento do subsistema de atenção às urgências, bem como das unidades que irão acolher as urgências e emergências.
Conhecer todo o planejamento das RAU é importante para a equipe multiprofissional nas unidades básicas, então fique atento(a) aos parágrafos abaixo para ampliarmos nosso conhecimento quanto a esse assunto tão importante.
O planejamento do subsistema de atenção às urgências deve ser realizado com o desenho regional da rede (análise e diagnóstico situacional de saúde) após a identificação das necessidades sociais em saúde e das urgências. O diagnóstico dessas necessidades deve ser feito:
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a partir da observação e da avaliação dos territórios sociais com seus diferentes grupos humanos;
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da utilização de dados de morbidade e mortalidade disponíveis e;
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da observação das doenças emergentes.
Deve-se também compor um quadro detalhado dos recursos existentes, levando-se em consideração sua quantidade, localização, acesso, complexidade, capacidade operacional e técnica (BRASIL, 2002, 2011a).
Após o diagnóstico situacional, elabora-se um Plano Regional de Atenção às Urgências com detalhamento técnico de cada componente da rede contemplando (BRASIL, 2011a):
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o desenho da RAU em região de saúde;
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metas a serem cumpridas;
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cronograma de implantação;
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mecanismos de regulação;
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monitoramento e avaliação;
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o estabelecimento de responsabilidades e;
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o aporte de recursos pela União, Estado, Distrito Federal e Municípios envolvidos.
A organização e distribuição equitativa dos pontos de atenção da RAU pactuados e contratualizados entre os entes federados (União, Estados, Distrito Federal ou Municípios), descritos no Plano Regional ou Municipal de Atenção às Urgências é imprescindível para que os pacientes sejam acolhidos, avaliados, estabilizados e transferidos quando necessitarem de transferências para unidades de menor/maior complexidade dentro da rede (BRASIL, 2002, 2010, 2011a).
Plano Regional/Municipal de Atenção às Urgências
Hospital geral | UPA 24H | Atenção domiciliar |
Unidade de Saúde com Sala de Estabilização |
Unidade Básica de Saúde | Central de Regulação SAMU |
Fonte: (BRASIL, 2013a, adaptado).
A Regulação Médica de Urgência 192 é o centro de comunicação da rede. Ela organiza a relação entre os serviços, qualificando o fluxo (referência e contra-referência) dos pacientes no sistema por meio do trabalho integrado das centrais de regulação médica de urgência com outras centrais de regulação, principalmente, em relação à central de leitos (BRASIL, 2011b).
Operacionalização da Central de Regulação Médica de Urgência (192) em casos de acidente
Fonte: (BRASIL, 2013a, adaptado).
1) O acidente ocorre.
2) Uma chamada telefônica deve ser feita para o SAMU 192.
3) Um Técnico Auxiliar de Regulação Médica (TARM) recebe o chamado e repassa para o médico regulador.
4) A equipe recebe o chamado da Central de Regulação e sai para realizar o atendimento.
5) O socorro é prestado pela equipe de saúde.
6) A vítima é removida para o hospital indicado pela Central de Regulação.
7) Chegada ao hospital.
É prioridade que o paciente seja transferido para o ponto mais próximo da rede para sua establização e transporte seguro (BRASIL, 2010, 2011a). Dessa forma, o trabalho integrado e eficaz dos componentes da RAU poderá reduzir a mortalidade e morbidade no primeiro, segundo e terceiro pico de mortes.
Fonte: (BRASIL, 2010, 2011a).
O planejamento em nível local de cada uma das unidades da RAU inicia-se com a organização de medicamentos, materiais e equipamentos destinados à estabilização dos sinais vitais e ao acolhimento das demandas das pequenas urgências.
Saiba mais |
Para saber mais sobre a RAU, acesse o Manual Instrutivo de Rede de Atenção às Urgências e Emergências no Sistema Único de Saúde (SUS) (BRASIL, 2013a). Clique aqui. |
A Portaria GM/MS nº 2048, de 05 de novembro de 2002, recomenda que todas as unidades de saúde tenham um espaço devidamente abastecido com medicamentos e materiais essenciais ao primeiro atendimento/estabilização de urgências que ocorram nas proximidades da unidade ou em sua área de abrangência, até a viabilização da transferência para unidade de maior porte, quando necessário (BRASIL, 2002). Portanto, torna-se necessária a padronização desse espaço com o objetivo de "uniformizar o conteúdo, a quantidade de materiais e medicamentos, disponibilizando os itens necessários para o atendimento da emergência de forma a agilizar o atendimento" (HAZINSKI; SAMSON; SCHEXNAYDER, 2010).
Os conteúdos devem ser divididos de acordo com quatro finalidades:
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avaliação diagnóstica;
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controle das vias aéreas;
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acesso vascular e controle circulatório;
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medicamentos.
E classificados nos seguintes níveis de prioridade (HAZINSKI; SAMSON; SCHEXNAYDER, 2010):
Atenção |
Caso os fármacos e equipamentos classificados como nível 2 não possam estar disponíveis na unidade para acesso em 15 minutos, devem permanecer nos carros de emergência. |
Dica |
Para organização dos materiais, se não for possível dispor de um carro de emergência, é possível colocá-los em compartimento de plásticos, malas ou bolsa. |
A Portaria GM/MS nº 2048, de 05 de novembro de 2002 determina que todas as unidades de saúde devem possuir área física especificamente destinada ao atendimento de urgências. Estabelece, ainda, a relação de materiais e medicamentos que devem estar disponíveis nas UBS (BRASIL, 2002).
Com base nas recomendações da Portaria GM/MS nº 2048 de 05 de novembro de 2002, I Diretriz de Reanimação Cardiopulmonar e Cuidados Cardiovasculares de Emergência da Sociedade Brasileira de Cardiologia e do The Code Cart Statement da American Heart Association, elaborou-se uma proposta com um rol de materiais e equipamentos que devem fazer parte do carro e/ou mala de emergência na Atenção Básica em Saúde (BRASIL, 2002; GONZALEZ et al., 2013a; HAZINSKI; SAMSON; SCHEXNAYDER, 2010):
Padronização do carro de emergência e/ou mala de emergência
Finalidade | Paciente adulto | Nível de Prioridade |
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Desfibrilador Externo Automático (DEA) | 1 | |
Material de Proteção Individual (luvas, máscaras e óculos) | 1 | |
Avaliação Diagnóstica | Oxímetro de pulso | 1 |
Colorimétricos de CO2 expirado final | 1 | |
Glicosímetro capilar | 1 | |
Cânulas de Guedel (adulto e infantil) | 1 | |
Bolsa valva máscara com reservatório de O2 adulto e pediátrico | 1 | |
Tubo endotraqueal (nº 6,0 a 8,0) | 1 | |
Sondas de aspiração flexível 10 ou 12 (adulto) | 1 | |
Aspirador portátil ou fixo | 1 | |
Oxigênio | 1 | |
Controle de vias aéreas | Laringoscópio com laminas curva nº 3 e 4 | 1 |
Cânula tipo óculos | 1 | |
Umidificador | 1 | |
Extensão para Nebulizador | 1 | |
Extensão de PVC para Oxigênio | 1 | |
Fixador de Cânula Orotraqueal | 1 | |
Sonda Nasogástrica nº 16 e 18 | 1 | |
Tubo esofágico traqueal (combitube)ouMáscara laríngea | 1 | |
Cateter intravenoso periférico nº 14,16,18,20,22 | 1 | |
Torneirinhas | 1 | |
Agulha de cateter intravenoso central (para tamponamento e/ou pneumotórax hipertensivo) | 1 | |
Soro fisiológico 1000 ml; Ringer Lactato 1000 ml, Soro Glicosado a 5%. | 1 | |
Acesso vascular e controle circulatório | Equipo macrogotas | 1 |
Seringas de 3ml, 5ml, 10mll, 20ml. | 1 | |
Agulha 36X12 ou 36X10 | 1 | |
Gases | 1 | |
Esparadrapo | 1 | |
Água destilada 10ml | 1 | |
Aspirina | 1 | |
Atropina | 1 | |
Adrenalina | 1 | |
Amiodarona | 1 | |
Lidocaína | 1 | |
Adenosina | 1 | |
Betabloqueador | 1 | |
Nitroglicerina | 1 | |
Glicose a 50% | 1 | |
Furosemida | 1 | |
Medicamentos | Aminofilina | 2 |
Hidrocortisona | 1 | |
Brometo de Ipratrópio | 2 | |
Isoprofenerol | 3 | |
Diazepam | 2 | |
Midazolan/ Fentanil (sedação) | 2 | |
Dobutamina | 2 | |
Dopamina | 2 | |
Diltiazem | 3 | |
Deslanosídeo (verapamil) | 3 | |
Isossorbida | 1 |
Fonte: (BRASIL, 2002; GONZALEZ et al., 2013a; HAZINSKI; SAMSON; SCHEXNAYDER, 2010, adaptado).
Saiba mais |
Para saber mais sobre medicamentos, materiais e equipamentos na Atenção Básica, em situações de urgências (BRASIL, 2002), clique aqui. Acesse também a I Diretriz de Ressuscitação Cardiopulmonar e Cuidados Cardiovasculares de Emergência para saber um pouco mais sobre carros de emergência, clique aqui (GONZALEZ et al., 2013b). |
Atenção |
Apesar de existirem legislações que orientam sobre quais medicamentos e equipamentos devem estar disponíveis para o atendimento às urgências, não é garantido que todos os municípios consigam viabilizar essa listagem de insumos nas unidades de saúde, em especial quando há possibilidade de o(a) gestor(a) aderir ou não à proposta. Portanto, é essencial que você conheça essas legislações e, se necessário, dialogue com o(a) gestor(a) para que, juntos, avaliem a possibilidade de disponibilizar esses insumos na unidade de saúde, baseado(a) em seu nível de complexidade e demanda. E, em caso negativo, que haja uma ação de orientação e esclarecimento à população sobre as ofertas disponíveis naquele serviço. |