Abordagem domiciliar de situações clínicas comuns em adultos ARES - Álcool e outras drogas
Como manejar na atenção domiciliar?
O suporte social mais importante que o paciente possui é a família. O papel do profissional de saúde é o de orientar os familiares sobre suas responsabilidades e funções, visando à melhora do paciente.
A EMAD, em cada visita domiciliar, pode usar o teste CAGE e tentar mediar os conflitos entre pacientes, transmitindo-lhes a informação de que o sucesso do tratamento depende da ação conjunta de todos.
O que é CAGE? C = Cut Down (sentiu que devia reduzir a ingesta de álcool)
A = Annoyed (críticas o incomodam)
G = Guilty (culpa)
E = Eye-opener (bebe pela manhã para evitar ressaca)
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Clique aqui para ler artigo que trata da redução de danos e a saúde pública (PASSOS; SOUZA, 2011). |
Síndromes de abstinência
Continuação do caso clínico |
Em casa há 15 dias, José está conseguindo, dia a dia, não beber. Por outro lado, Sabrina tem recaídas frequentes. |
O tratamento da abstinência do uso de álcool e drogas busca o alívio de sintomas de ansiedade, impulsividade, irritabilidade, insônia e depressão (RIBEIRO; LARANJEIRA; MESSAS, 2006). Veja mais detalhes a seguir.
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Quer conhecer a Clinical Withdrawal Assessment Revised (CIWA-Ar)? Clique aqui (LARANJEIRA et al., 2000). |
Para o tratamento da SAA, são considerados três níveis de atendimento: tratamento ambulatorial, internação domiciliar e internação hospitalar (LARANJEIRA et al., 2000).
O tratamento da SAA pode ser dividido em não farmacológico (que inclui os cuidados gerais e orientações) e farmacológico (RIBEIRO; LARANJEIRA; MESSAS, 2006). Essas medidas devem ser iniciadas, mesmo em ambientes de atendimento de urgências (UPAs), policlínicas, pois, assim, em 2-3 dias, com o paciente mais estável, a EMAD pode assumir, no domicílio, a continuidade do tratamento.
Tratamento não farmacológico
- Em relação às medidas do tratamento não farmacológico, na assistência domiciliar, destacamos o monitoramento frequente do paciente; tentativas de propiciar um ambiente tranquilo, não estimulante, com luminosidade reduzida; fornecimento de orientação ao paciente (com relação a tempo, local, pessoal e procedimentos); limitação de contatos pessoais; atenção à nutrição e à reposição de fluidos e reasseguramento dos cuidados e encorajamento positivo.
- O paciente deve permanecer restrito em sua moradia, recebendo assistência dos familiares. Idealmente, o paciente deverá receber visitas frequentes de profissionais de saúde da EMAD.
- Deve ser propiciado ao paciente e à família o acesso facilitado aos serviços de emergência, de internação em casos de evolução desfavorável do quadro.
Tratamento farmacológico
O tratamento farmacológico clínico é baseado na reposição de vitaminas, e o tratamento psiquiátrico envolve o uso de substâncias psicoativas (RIBEIRO; LARANJEIRA; MESSAS, 2006).
Tiamina: doses de 300mg/dia de tiamina são recomendadas com o objetivo de se evitar a Síndrome de Wernicke, que cursa com ataxia, confusão mental e anormalidades de movimentação ocular extrínseca.
Atenção! |
Nos primeiros dias de tratamento da SAA, a tiamina deve ser reposta por via endovenosa, pois a absorção oral de medicamentos pode estar prejudicada (LARANJEIRA et al., 2000). Entre o 7º e o 15º dia, pode ser usada a via intramuscular. Após 15 dias de tratamento, os medicamentos devem ser administrados via oral. |
Benzodiazepínicos (BZD): são as medicações de primeira escolha para o controle dos sintomas da SAA. Deve-se buscar a dose adequada para a intensidade de sintomas de cada paciente. Devem ser prescritas baseando-se no paciente. Os familiares devem ser informados a respeito dos sintomas a serem monitorados e orientados sobre a conveniência de utilizar a maior dosagem da medicação à noite. Ressalta-se que a dose adequada é aquela que diminui os sintomas da abstinência; portanto, em algumas situações, podem ser indicadas doses muito maiores que a recomendada.
- Diazepam: 40mg via oral (VO) por dia, com retirada gradual, ao longo de uma semana; ou
- Clordiazepóxido: 200mg (VO) por dia, com retirada gradual, ao longo de uma semana; ou
- Lorazepam: 8mg (VO) por dia, nos casos de hepatopatias graves (6).
A abordagem ao paciente em abstinência de cocaína e crack deve ser realizado em ambiente tranquilo. Os sintomas são autolimitados e duram poucos dias. Para diminuir o desejo intenso pela droga (craving), deve-se administrar:
Bromocriptina 1,5mg 8/8h + Amantadina 100mg 12/12h + Carbamazepina 200 a 600mg 8/8h via oral. |
Atenção! |
Os antipsicóticos são proscritos, ou seja, contraindicados, pois podem aumentar o craving e a disforia (mudança repentina e transitória do estado de ânimo, podendo se apresentar como tristeza, pena, angústia).
Não esqueça que:
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O tratamento da intoxicação por cocaína ou crack e o da síndrome da abstinência devem deve ser iniciado em ambiente hospitalar. Iniciam-se as medidas de suporte básico de vida, devendo os pacientes serem colocados em ambiente tranquilo (RIBEIRO; LARANJEIRA; MESSAS, 2006). Após a estabilização clínica, iniciar o acompanhamento domiciliar no qual a equipe estará atenta às necessidades do paciente de forma individualizada (controle de sintomas físicos, questões emocionais, sociais, entre outras) e singular porque enfatiza a ajuda à família e aos amigos para aprenderem a não culpar o paciente pelo uso abusivo de substâncias químicas. As orientações ajudam o paciente a manter um plano de cuidados que atinge o sucesso em longo prazo.
Tratamento da intoxicação
Medidas a serem tomadas:
- aferições frequentes da pressão arterial, pulso e monitorização cardíaca;
- diazepam: 10mg via oral para controle das reações de ansiedade ou agitação extrema. Se houver convulsão, usar 5mg endovenosa lenta na crise;
- hidantal: se houver persistência das crises convulsivas, manter um comprimido (100mg) 8/8h;
- haloperidol: 1 a 5mg por 1 a 5 dias para os surtos psicóticos. Deve ser usado com cautela, pois pode piorar os efeitos simpatomiméticos da cocaína;
- α - agonista (Clonidina): usado para a hiperatividade adrenérgica persistente.