Fenômenos abióticos

São divididos em fenômenos abióticos imediatos e mediatos.

Fenômenos abióticos imediatos

Muitos dos fenômenos abióticos imediatos isoladamente não têm valor, pois podem ser encontrados em outras situações, como em certas doenças, por exemplo. Porém, quando somados a outros fenômenos, possuem importância para corroborar o diagnóstico da morte.

São eles (FRANÇA, 2008, 2015; HÉRCULES, 2014):

Perda da consciência.

Perda da sensibilidade: uma das manobras

utilizadas para pesquisar a sensação

dolorosa é o pinçamento do mamilo.

Abolição da motilidade e do tônus muscular (imobilidade). Neste caso, a mão toma uma posição quase sempre característica: os quatro últimos dedos juntos, flexionados, recobrindo um pouco o polegar que está dirigido para o oco da mão.

Com a morte, surge o relaxamento muscular, o que gera, por consequência (FRANÇA, 2008, 2015; HÉRCULES, 2014):

  • a dilatação das pupilas, que depois se contraem progressivamente;

  • a comum abertura das pálpebras;

  • a dilatação do ânus, que em alguns casos gera saída de material fecal;

  • abertura da boca pelo relaxamento dos músculos mastigadores;

  • a presença de esperma no canal uretral;

  • cessação da respiração: confirmada pela ausculta pulmonar sem murmúrios vesiculares;

  • cessação da circulação: a ausculta do coração, o eletrocardiograma e o ecocardiograma são elementos importantes nessa avaliação;

  • cessação da atividade cerebral: é considerado o conceito de morte mais atual, tendo assim o registro da atividade encefálica muita importância no diagnóstico de morte.

Fenômenos abióticos consecutivos (mediatos)

Neste caso, são considerados os seguintes fenômenos:

Desidratação cadavérica

A desidratação cadavérica é o processo no qual o cadáver sofre evaporação da pele, perdendo água para o meio. A desidratação se caracteriza por (FRANÇA, 2008, 2015; HÉRCULES, 2014):

  • diminuição do peso: a evaporação da água dos tecidos após a morte leva, consequentemente, à perda de peso. É mais acentuada nos fetos e recém-nascidos, pois esses possuem mais água corporal que os adultos. Diversos fatores influenciam esse fenômeno, como características do indivíduo, o tipo de morte e condições do ambiente. Para a utilização dessa prática na estimativa do tempo de morte, precisa-se do conhecimento do peso da pessoa antes da morte;

  • pergaminhamento da pele: pela evaporação da água da pele, ela se desseca, endurece, com tonalidade pardacenta, ficando com um aspecto de pergaminho;

  • dessecamento das mucosas dos lábios: principalmente nos cadáveres de recém-nascidos e de crianças, a mucosa labial sofre desidratação, tomando uma consistência dura e tonalidade escura. O conhecimento desse fenômeno natural é fundamental para não se atribuir esse achado a lesões traumáticas ou ação de substâncias cáusticas.

  • modificação dos globos oculares: a desidratação dos olhos apresenta certos fenômenos como, por exemplo, a formação da tela viscosa constituída pelas partículas de poeira aderidas ao olho; a perda da tensão do globo ocular; o enrugamento da córnea; a mancha negra da esclerótica e a turvação da córnea transparente.

Esfriamento cadavérico (Algor mortis)

Com a morte, o cadáver tende a equilibrar sua temperatura com o meio ambiente, já que não possui mais o sistema termorregulador. Embora esse esfriamento seja progressivo, não se faz de forma uniforme. Ele começa pelos pés, mãos e face; já os órgãos internos mantêm-se aquecidos por 24 horas, em média (FRANÇA, 2008, 2015; HÉRCULES, 2014).

Diversos fatores podem influenciar esse fenômeno (FRANÇA, 2008, 2015; HÉRCULES, 2014):

  • a renovação e a umidade do ar e a ventilação forte roubam calor, influenciando na velocidade do esfriamento do cadáver;

  • a grande quantidade de tecido adiposo, assim como a permanência do corpo com roupas e em ambiente fechado irão gerar um processo de esfriamento bem mais lento;

  • por outro lado, as crianças e os idosos tendem a esfriar mais rápido, assim como aqueles que morrem de doenças crônicas, de traumas cranianos, hipotermia, desidratação e grandes hemorragias;

  • já os indivíduos que morrem de insolação, internação, intoxicação por venenos e doenças infecciosas agudas apresentam um esfriamento mais lento.

Atualmente, o diagnóstico da realidade da morte é feito pela temperatura retal, onde um valor igual ou menor que 20°C é considerado um índice incompatível com a vida (FRANÇA, 2008, 2015; HÉRCULES, 2014).

Mesmo não sendo parâmetro de absoluta precisão, o estudo do esfriamento cadavérico ainda persiste como o elemento mais importante das primeiras horas para a determinação do tempo aproximado de morte. Esse é baseado no tempo de esfriamento médio do corpo de 1,5°C por hora (FRANÇA, 2008, 2015; HÉRCULES, 2014).

Manchas de hipóstase cutâneas (Livor mortis)

Também chamadas de manchas de posição ou lividez cadavérica, são fenômenos constantes, estando ausentes excepcionalmente em casos de mortes por grandes hemorragias (FRANÇA, 2008, 2015; HÉRCULES, 2014).

Caracterizam-se pela tonalidade azul-arroxeada, em forma de placas, encontradas, geralmente, na parte de declive dos cadáveres (por isso chamadas de manchas de hipóstase), variando, assim, com a posição do corpo. Esses livores cadavéricos permanecem até o surgimento dos fenômenos putrefativos (FRANÇA, 2008, 2015; HÉRCULES, 2014).

Na morte, o sangue, pela gravidade, vai se acumulando nas partes mais baixas, deixando de aparecer apenas nas áreas em que o corpo fica pressionado sobre algum plano resistente. Em geral, os livores começam a aparecer em torno de 2 a 3 horas após a morte. Sua distribuição varia de acordo com a posição do cadáver. Assim, se o corpo está deitado de costas, a distribuição dos livores se concentra na parte posterior do corpo, com exceção das escápulas, nádegas e face posterior das coxas e das pernas, pois essas áreas estão encostadas e sob pressão do plano onde repousa o corpo. Não são vistos também nos locais pressionados pelas roupas, cintos, alças elásticas, entre outros (FRANÇA, 2008, 2015; HÉRCULES, 2014).

São muito importantes na determinação do tempo de morte e para avaliar se mudaram o corpo de posição, pois, durante as primeiras 12 horas após a morte, essas manchas podem mudar de posição conforme for mudada a posição do corpo. Depois de passadas essas 12 horas iniciais, fixam-se definitivamente. Assim, se um cadáver permanecer em uma determinada posição durante mais de 12 horas, mesmo que se desloque o corpo, permanecerão as manchas no local da situação inicial.

Realiza-se o diagnóstico desses livores cadavéricos quando se pressiona, com o dedo, a zona do livor, na qual desaparece a tonalidade por alguns instantes, isto até sua fixação definitiva.  

Rigidez cadavérica

A rigidez cadavérica resulta da falta de oxigênio nas células, o que impede o músculo de ter um relaxamento adequado, ficando, assim, num estado de contratura muscular. A rigidez cadavérica varia de acordo com a idade, a constituição do indivíduo e a causa da morte (FRANÇA, 2008, 2015; HÉRCULES, 2014).

Segundo a Lei de Nysten, a rigidez possui uma ordem de instalação no sentido de seguir do crânio para os pés. Manifesta-se, assim, em primeiro lugar, na face, na mandíbula e no pescoço; depois, nos membros superiores, tronco, e, finalmente, nos membros inferiores, desaparecendo na mesma ordem (FRANÇA, 2008, 2015; HÉRCULES, 2014).

Geralmente, a rigidez se inicia entre 1 e 2 horas depois da morte, chegando ao máximo após 8-12 horas e desaparecendo com o início da putrefação (cerca de 24 horas depois da morte), seguindo a mesma ordem com que se instalou. Assim, possui importância tanto para o diagnóstico da morte quanto para a determinação do tempo aproximado de morte (FRANÇA, 2008, 2015; HÉRCULES, 2014).

Algumas alterações da posição do cadáver podem ser observadas durante o período de rigidez, como:

  • fechamento das mãos;

  • leves flexões dos antebraços;

  • cerração dos maxilares.   

Espasmo cadavérico
O espasmo cadavérico é um fenômeno raro que se caracteriza pela rigidez abrupta, generalizada e violenta, fixando, assim, a última atitude da vítima. Difere da rigidez cadavérica comum, pois essa tem instalação gradual e progressiva.
Última atualização: quinta, 31 Jan 2019, 15:37