Como avaliar e diagnosticar?

O médico e o enfermeiro, principalmente, devem estar atentos, avaliando a cada visita a possibilidade de uma ITU. Devem também enfatizar a necessidade de manter acompanhamento ambulatorial nos casos específicos que não puderem ser apenas acompanhados pela equipe da atenção básica e orientar medidas que ajudem a evitar a ITU de repetição.

A equipe deve sempre tentar evitar uma possível sepse de foco infeccioso, que é uma complicação grave, pois se trata de uma Síndrome da Resposta Inflamatória Sistêmica (SIRS) decorrente de um processo infeccioso, que, no caso da urosepse, é a infecção urinária (MATOS; VICTORINO, 2004).

prancheta_mostarda Continuação do caso clínico
Foi realizada urocultura, mas antes do resultado do exame, no segundo dia, José já estava estável hemodinamicamente, devido ao início precoce de antibioticoterapia venosa. Como não houve melhora do quadro hemodinâmico com expansão volêmica, optou-se por iniciar Ceftriaxona 2 gramas/dia intramuscular (IM), devido ao acesso periférico difícil, permanecendo o acesso endovenoso exclusivo para a hidratação. Depois de conseguida a estabilidade hemodinâmica do paciente, foi passada a manutenção da hidratação para a via oral, o Ceftriaxona continuou por via IM, e foi solicitada a inclusão na AD para garantir que o tratamento com o antibiótico fosse realizado por 7 dias, garantindo também reorientações no domicílio do paciente.

Clique aqui para visualizar o exame do Sr. José.


Exames Laboratoriais

O principal exame a ser solicitado diante da suspeita clínica de ITU é a urocultura. No exame da urocultura, temos os seguintes dados:

- Presença ou ausência de agente etiológico;

- Concentração bacteriana em unidade formadora de colônias por ml da amostra (UFC/ml) (SOARES et al., 2002):

  • Acima de 100.000 UFC/ml = sugere infecção em todos os pacientes;
  • Entre 10.000 e 100.000UFC/ml = em pacientes assintomáticos representa contaminação em 95% dos casos; porém em sintomáticos ou na presença de leucocitúria, presença de infecção;
  • 1000 UFC/ml = em homens, essa concentração ou maiores sugerem ITU.


- Antibiograma

O antibiograma testa os antibióticos para determinar quais são capazes de matar o agente etiológico. É realizado por:

  • Método qualitativo: é o mais empregado e utilizado apenas para organismos com crescimento rápido. Após incubação de 16 a 18horas, a interpretação depende da combinação específica entre cada organismo e antimicrobiano. O resultado é expresso em: sensível/intermediário ou moderadamente sensível/resistente (SOARES et al., 2002).
  • Método quantitativo: permite a determinação de:
    • concentração bactericida mínima: é a menor concentração do antimicrobiano capaz de inibir quase que a totalidade da quantidade de organismos testados (SOARES et al., 2002);
    • concentração inibitória mínima (MIC): é a menor concentração do antimicrobiano capaz de inibir o crescimento bacteriano após 18 a 24 horas em cultura. É utilizada para escolher o antimicrobiano que atuará contra o microrganismono sítio da infecção (SOARES et al., 2002);
    • E test: quantifica a MIC de antimicrobianos isolados. É usado para testar a sensibilidade debactérias de crescimento lento (treptococcuspneumoniae, H. influenzae, N. gonorrhoeae, S. aureus meticilino-resistentes, Moraxella catarrhalis, enterococos eanaeróbios (SOARES et al., 2002).

A coleta da urina para a urocultura deve ser realizada a partir do jato médio e por meio de técnicas assépticas após término da antibioticoterapia. A primeira urina da manhã contém potencialmente maior população de bactérias devido ao maior tempo de incubação, porém a sintomatologia da ITU com elevada frequência urinária poderá dificultar esta medida.

Diante do exposto, aceita-se que a urina de qualquer micção pode ser valorizada, desde que obtida com um intervalo mínimo de duas horas após a micção anterior, pois é o período que corresponde ao tempo de latência para o crescimento bacteriano, para que se evitem falsos negativos (HEILBERG; SCHOR, 2003).

Saiba mais...
Orientações sobre coleta masculina e feminina do jato médio de urina para evitar interferências nos resultados da urocultura.

Método de coleta em homens
Coleta Masculina
Método de coleta em mulheres
Coleta feminina

 
 
Complicações comuns na ITU

A EMAD deve estar atenta às possíveis complicações, como:

  • Desidratação: Identificar o grau da desidratação e orientar aumento de ingesta de líquidos.
  • Obstrução de dispositivos: caso a EMAD ou a equipe da USF tenha disponibilidade de ir até o paciente, poderá realizar a troca do dispositivo, colher urocultura e avaliar outras medidas necessárias. Caso não possa ir até o paciente de imediato e não haja sinais de gravidade clínica, poderá pedir ao cuidador para retirar a sonda vesical de demora e realizar cateterismo vesical de demora (caso tenha sido treinado e esteja seguro em realizar tais procedimentos), do contrário, o paciente deverá ser levado para a Unidade de Pronto Atendimento (UPA) ou Pronto-socorro (PS).
  • Urosepse: é uma síndrome da resposta inflamatória sistêmica (SIRS) decorrente de uma infecção urinária (MATOS; VICTORINO, 2004). Diante da suspeita, deve-se sempre transferir o paciente para uma urgência clínica de imediato.
Última atualização: segunda, 15 Dez 2014, 15:57