Urgências e emergências cardiovasculares na Atenção Básica
O que é crise hipertensiva?
O termo crise hipertensiva abrange uma série de situações clínicas com graus diferentes de severidade de elevação da Pressão Arterial (PA) (FRANCO, 2002).
A crise hipertensiva pode ser definida como a elevação abrupta e intensa da pressão arterial (acompanhada ou não de sintomas leves como cefaleia, tontura e zumbido; ou graves como dispneia, dor precordial e coma), que pode chegar a representar ameaça à vida ou estabelecer lesões definitivas em órgãos-alvo (lesões irreversíveis) (MARTINS; DAMASCENO; AWADA, 2013; SOUZA;CARVALHO, 2013), que podem incluir (MALACHIAS et al., 2016):
- acometimento neurológico;
- acometimento renal;
- acometimento ocular;
- acometimento hepático;
- insuficiência miocárdica, que se manifesta como:
- encefalopatia;
- convulsões;
- alterações visuais;
- achados anormais de eletrocardiograma ou ecocardiograma;
- insuficiência renal ou hepática.
Na ABS, a crise hipertensiva causa confusão entre alguns profissionais de saúde quanto à necessidade ou não de transferir o paciente para um serviço de maior complexidade para dar continuidade ao tratamento. É importante lembrar que existem indivíduos mais ou menos sensíveis à variação abrupta da pressão arterial.
Em casos de classificação errônea, nos quais pacientes são encaminhados desnecessariamente para um ponto de atenção às urgências de maior complexidade, as falhas podem chegar a causar retardo no tratamento (pelo tempo perdido durante a transferência do paciente para outro serviço e/ou pela classificação de baixo risco que o paciente está recebendo) e/ou sobrecarga de serviço do ponto de saúde que recebeu o paciente.
As crises hipertensivas podem ser divididas em emergências hipertensivas, urgências hipertensivas e pseudocrises hipertensivas, como veremos a seguir:
Emergência hipertensiva |
É uma condição em que há elevação crítica da pressão arterial com quadro clínico grave, progressiva lesão de órgãos-alvo e risco de morte. Esse quadro é provocado por elevação abrupta da pressão arterial ocasionando, em território cerebral, perda da autorregulação do fluxo sanguíneo e evidências de lesão vascular (SBC, 2010). Nesses casos, há riscos eminentes de vida ou de lesão orgânica grave; logo, o profissional da Atenção Básica deve acionar o serviço de atendimento móvel de urgência para remoção imediata do paciente (BRASIL, 2013b). |
Urgência hipertensiva (UH) |
É a elevação crítica da pressão arterial, em geral, pressão arterial diastólica ≥ 120mmHg, porém com estabilidade clínica, sem comprometimento de órgãos-alvo. Para esses casos, o controle pressórico pode ser realizado com medicações por via oral, podendo-se estabelecer esse controle em até 24 horas (BRASIL, 2013b). |
Pseudocrises hipertensivas |
São situações nas quais o aumento acentuado de PA é desencadeado por dor (cólicas, cefaleia, fibromialgias), desconforto (tontura, mal-estar), ansiedade, abandono do tratamento, ou por associação desses fatores. Muitas vezes, pode refletir a má adesão ao tratamento anti-hipertensivo ou uso de doses insuficientes (BRASIL, 2013b). A pseudocrise hipertensiva oferece uma oportunidade para reforçar as medidas não medicamentosas e/ou otimizar o tratamento medicamentoso (BRASIL, 2013b) e não necessita da transferência para unidade hospitalar. |
A alteração da pressão arterial é determinada por uma cascata de fatores hormonais e neurológicos que interagem entre si numa complexa, e ainda mal conhecida, relação. Pode ocorrer como:
- complicação da hipertensão primária, cuja causa é desconhecida na maioria dos casos, ou secundária à medicação irregular;
- retirada abrupta de anti-hipertensivo;
- doença renal (vascular ou parenquimatosa);
- drogas (álcool, cocaína);
- doença do colágeno (lúpus eritematoso sistêmico, esclerodermia);
- pré-eclâmpsia/eclâmpsia;
- pós-operatório.
Independentemente da etiologia da crise hipertensiva, a taxa de sobrevivência em cinco anos dos pacientes é de 74%. Isso evidencia a importância de uma abordagem adequada para minimizar sequelas e otimizar a recuperação do quadro, uma vez que o comprometimento sistêmico é bastante grave (MALACHIAS et al., 2016).